Há um pensamento no meio cristão, que até se transformou em argumento muito usado na oração pessoal e em algumas letras de louvores congregacionais, refletindo a atitude de muitos e revelando o nível de cristianismo de alguns. Tal pensamento tem base num aprendizado de leitura rápida, e, porque não dizer, superficial do texto sagrado, não levando em conta os pormenores, detalhes tão preciosos que, simplesmente, mudam toda perspectiva daquilo que “pensamos” que cremos, demonstrando a gradação de seriedade com que as ordens bíblicas são encaradas.
Vou denominá-lo aqui como “A teologia do ”eu, hein!”“. Uma teologia passiva, destituída de compromisso pessoal e responsabilidade solidária, o tipo de teologia que aprecia argumentos tais como: “Entregue na mão de Deus”. “Deus é o responsável”. “Vamos esperar em Deus”. Já que ”Deus opera em nós tanto o querer como o efetuar”, esperemos somente os resultados sem qualquer ação responsiva (ação que responde a um chamado) de nossa parte. Não faça nada, Deus faz tudo!.
Não se detenha aqui, continue para entender.
Então, para que a preocupação no incentivo da melhora do meu caráter? “Eu, hein!” Deus faz tudo (e notamos uma parcela considerável de cristãos “descaracterizados”). Para que procurar emprego? “Eu,hein!” Deus vai trazê-lo à minha porta (e o desemprego instala-se na casa do cristão). Para que preocupação de como está meu relacionamento no casamento, pra que fazer cursos e educar-me “matrimonialmente”? “Eu, hein!” Já tô orando quanto ao assunto e Deus vai operar (e o índice de divórcio aumenta). Pra que se preocupar com educação financeira e gerência de recursos? Deus não deixará o dinheiro acabar (e quanto menos a pessoa espera, está afundada em dívidas). E por aí, vai.
Será que Deus desligou o ponto de acesso e a linha para o céu foi desconectada? O que está acontecendo; quem está não está acertando?
Nós! Nós estamos equivocados.
Claro está que Deus tudo faz e que devemos nos abandonar aos cuidados dAquele que tem o controle sobre tudo, esperar nEle, porque sem Sua ação, Sua intervenção, Sua Graça abundante, a humanidade estaria permanentemente perdida.
No entanto, não lemos com a atenção necessária as passagens sagradas; pois, nossa mente encontra-se formatada com ideologias, preconceitos e pacotes teológicos onde não há mais espaço para a revelação divina, escrituristicamente falando, ou somos ouvintes esquecidos ou simplesmente subestimamos nossa parte em tudo isso.
Tentamos, por todos os meios, fazer com que Deus assuma e faça a nossa parte e esperamos que Deus execute a parte dEle, ou seja: “Deus..., aqui está a situação, embora eu a tenha provocado, não pretendo descobrir como ela funciona nem tão pouco como posso solucioná-la, nem vou procurar a solução por menor que seja este problema. Está nas suas mãos, “SE VIRA””. E Deus realmente “SE VIRA”; mas, “se vira e vai embora”, porque, onde não há boa vontade, não há milagres. Dirijo-me às pessoas que já fizeram sua confissão de fé.
Isto me faz lembrar o trecho de um antigo louvor onde cantávamos: “Eu quero ser, Senhor amado, como vaso nas mãos do oleiro”- . Até aqui nenhum problema. Aí então, aparece inocentemente, mas indevida, a frase: “Quebra minha vida, faça-a de novo”. Depois continua o verso: “Eu quero ser, eu quero ser... um vaso novo” -. Alguém já pensou detidamente na frase “quebra minha vida?” O autor da referida frase está rogando para que Deus quebre sua vida como se quebra um vaso de barro. Se tal autor foi inspirado na passagem de Jeremias 18:01-04, a passagem não foi examinada com atenção necessária, pois ali está escrito que “como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se (diferente de foi quebrado) na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer” - Tradução Corrigida.
Outras traduções:
1 - Nova Versão Internacional: “Mas o vaso de barro estragou-se em suas mãos; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade”
2 - Bíblia de Jerusalém: “E estragou-se o vaso que ele estava fazendo como acontece à argila na mão do oleiro. Ele fez novamente um outro vaso, como pareceu bom aos olhos do oleiro”.
3 - Revista e Atualizada: “Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu”.
4 - Edição Pastoral: “O objeto que ele estava fazendo se deformou, mas ele aproveitou o barro e fez outro objeto, conforme lhe pareceu melhor”.
Notem que o verbo “quebrou-se”, “estragou-se”, “se lhe estragou”, ”se deformou” sofre uma ação sobre si mesmo, ou seja, não foi por vontade do oleiro que o vaso estragou-se. Aquele que fazia o objeto de barro queria, tão somente, dar-lhe forma, delinear sua estética, definir seu espaço interno. Do barro, trazer à existência algo para ser útil e moldá-lo a seu gosto para uma finalidade. No entanto, tal vaso, não suportando a pressão do formato ou por algum defeito no ponto da massa, estragou-se, “se deformou”, perdeu a forma, e, conseqüentemente, sua utilidade. Então, o oleiro, aproveitando a mesma massa, o mesmo barro “fez outro vaso, conforme lhe pareceu melhor”, conforme bem lhe convinha. Não vamos tratar aqui da Soberania de Deus, isto é outro caso a parte, segundo o Livro de Romanos, capítulo 09. Aqui estamos discorrendo sobre o “sujeitar-se a Deus”, tratando de mecanismos que levam à entrega total, e que, segundo Jesus orou no Getsêmani: “Seja feito conforme a tua vontade, não a minha (vontade)”.
Eis uma declaração: Deus não vai quebrar sua vida como se quebra um vaso. Deus não fará isto. Despedaçará sim, os gentios amotinados, povos que pensam coisas vãs e rebelam-se contra o Ungido, conforme descreve o Salmo 02, capítulo 09: “Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro”. Em Apocalipse 02:26, 27, o texto é ainda mais claro: “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações, e com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai”. Isto que dizer que a “vara de ferro” vai “descer” no lombo das nações impenitentes. Você quer isso? Acho que não!
O Salmo messiânico 31 descreve seu lamento dizendo que “...Estou esquecido no coração deles, como um morto; sou como um vaso quebrado”. Que expressão forte: “... como um morto; como um vaso quebrado”. O morto equivale-se ao vaso quebrado.
Notemos também a declaração de Jeremias 48:37 a 39: “Sobre todos os telhados de Moabe e nas suas ruas haverá um pranto geral; porque quebrei a Moabe, como a um vaso que não agrada, diz o SENHOR. Como está quebrantado! Como gritam! Como virou Moabe a cerviz envergonhado! Assim será Moabe objeto de escárnio e de desmaio, para todos que estão em redor dele”. Quando Deus quebra, a coisa fica séria.
E este texto: “Então quebrarás a botija à vista dos homens que forem contigo. E dir-lhes-ás: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu a este povo, e a esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá mais lugar para os enterrar. Assim farei a este lugar, diz o SENHOR, e aos seus moradores; sim, para pôr a esta cidade como a Tofete”. Você quer ser enterrado, sepultado antes do tempo? Sei que não!
Isaías 30:12-14, explica a razão e o porque da necessidade de Deus quebrar o vaso. “Por isso, assim diz o Santo de Israel: porquanto rejeitais esta palavra, e confiais na opressão e perversidade, e sobre isso vos estribais, por isso esta maldade vos será como a brecha de um alto muro que, formando uma barriga, está preste a cair e cuja quebra virá subitamente. E ele o quebrará como se quebra o vaso do oleiro e, quebrando-o, não se compadecerá; de modo que não se achará entre os seus pedaços um caco para tomar fogo do lar, ou tirar água da poça”. Vai encarar?
Bem! Então quem fará essa "quebra" na minha vida? É você que tem de fazer isso. Você responderá: ÓÓÓHH!! sou eu??? Sim, é você que toma a iniciativa de quebrar e deixar em cacos o vaso de sua vida centrada no ego. Isto porque você é comparado a um vaso de barro que, vaso este que tem vida e vontade próprias; você é dono de suas decisões e por elas responderá. Enquanto você, de livre e espontânea vontade, e sem qualquer constrangimento, não resolver proceder a quebra de seu vaso, nada, ab-so-lu-ta-men-te nada acontecerá, conforme Apóstolo Paulo afirma que “nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça”. Isto é assim, porque é com a nossa cooperação que a operação de Deus se concretizará. (teológicamente, isto se chama livre arbítrio).
Pedir a Deus que quebre nossa vida é um subterfúgio para não assumirmos esta parte, para termos uma desculpa que, se não acontecer, não é culpa minha, mas de quem? Calcule: - DE DEUS! Abstemo-nos da dura parte do processo usando, por momentos, a velha frase: “Eu nasci assim, cresci assim, eu sou mesmo assim, vou morrer assim”. Então, seja feito conforme a fé que professa: continue e morrerá assim.
Há demonstrações bíblicas que afirmam minha responsabilidade em quebrar o vaso? Sim, e muitas"!
A mulher, em Betânia, quebrou o vaso, e a fragrância do perfume tomou conta do lugar onde estava Jesus. E Jesus, para os incomodados com a situação, disse: “Deixai-a... Ela fez uma boa obra... Esta fez o que podia... Em todas as partes do mundo o que ela fez será contado para sua memória”. Mc 14:03-09. Esta mulher simplesmente quebrou o vaso, ungindo Jesus. Nunca mais foi esquecida. E, enquanto houver pregação do evangelho, será lembrada. Aos que procuram ser o centro dos holofotes, o brilho das “luzes da ribalta” (ribalta, esta é antiga), para divulgarem seus nomes e firmarem-se na publicidade e no mundo da mídia, aí está a receita de um bom exemplo a ser seguido. Os que quebram o vaso, mesmo terceiros não querendo e fazendo tudo para apagá-los da memória do povo, certamente serão lembrados.
O Rei Ezequias quebrou o vaso quando assim orou: “Ah, SENHOR! Suplico-te lembrar de que andei diante de ti em verdade, com o coração perfeito, e fiz o que era bom aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo. II Reis 20:3”.
O Novo Testamento está recheado de expressões tais como: Tome tua cruz, negue-se a si mesmo, transformem-se, encham-se, considerem-se, amem, sirvam, sujeitai-vos, produzam frutos etc, responsabilizando a atitude pessoal e o nível no qual você quer viver. Até a prosperidade não vem gratuitamente, você deve fazer alguma coisa para que ela aconteça, pois, "TUDO QUANTO FIZER, prosperará", Salmo 01:03. Se você nada fizer, ela não acontecerá. O nada resulta em dobro disso. A promessa é clara: você faz, trabalha, desenvolve, e sobre isso virá a benção da prosperidade. Ela não caiu das alturas, nem acontece como num truque de mágica. O seu trabalho, por pequeno que seja, será próspero, bem sucedido. É a promessa.
Deus não é simpático com a idéia de ociosidade. Na Bíblia não encontramos mandamento ou conselho nenhum prescrevendo para sermos ociosos, encontramos sim, a ordem para descansarmos em Deus, ficarmos firmes, depois de ter feito tudo - Efésios 06:13.
Você decide. Se há algo que Deus ama nos seus guerreiros, isso se chama voluntariado livre e apaixonado.
E o que dizer da clássica passagem de Gideão e seus trezentos que conta-nos como “...dividiu os trezentos homens em três companhias; e deu-lhes a cada um, nas suas mãos, buzinas, e cântaros vazios, com tochas neles acesas... Chegou, pois, Gideão, e os cem homens que com ele iam, ao extremo do arraial, ao princípio da vigília da meia noite, havendo sido de pouco trocadas as guardas; então tocaram as buzinas, e quebraram os cântaros, que tinham nas mãos. Assim tocaram as três companhias as buzinas, e quebraram os cântaros; e tinham nas suas mãos esquerdas as tochas acesas, e nas suas mãos direitas as buzinas, para tocarem, e clamaram: Espada do SENHOR, e de Gideão. E conservou-se cada um no seu lugar ao redor do arraial; então todo o exército (inimigo) pôs-se a correr e, gritando, fugiu. Juízes 7:19-21. Verificamos que “tocaram as buzinas, quebraram os cântaros (vasos)” e a luz da tocha, que levavam debaixo do cântaro, apareceu e brilhou na escuridão, aterrorizando e colocando em debandada o inimigo.
Hoje “temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós”. Que tesouro é este? O verso anterior responde: “O conhecimento da Glória de Deus na face de Jesus Cristo” II Co 4:05-10. Quebremos o vaso e este tesouro aparecerá e brilhará intensamente.
E quanto ao vaso? O que realmente significa a expressão “quebrar o vaso” em nossos dias? Humilhar-se é o que isso significa; quebrar o orgulho, arrepender-se. Disponibilizar-se na mão de Deus como barro -argila - "seja feita tua vontade" - e não como lama, sem proveito - "seja feita tua vontade, desde que não interfira na minha”. Reconhecer-se necessitado e carente, precisando de educação e esclarecimento para viver melhor e em harmonia. Procurar conhecer o que não sabe, e “humilhar-se, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte”.
Temperamentos, relacionamentos, finanças, casamentos, família, filhos, sociedade, trabalho, amizades, mundo contemporâneo, cultura do momento, frutos, dons, etc... Procure conhecer sempre as causas e conseqüências, estude com afinco; pergunte, se não sabe; saia a "caça" de conselho daqueles que já passaram por situações delicadas e descubra como se tornaram vencedores. Conviva com cristãos guerreiros que exibam cicatrizes, não medalhas. Não espere um milagre, seja este milagre.
Nas causas possíveis, receberá você a orientação Divina necessária para agir, o Espírito Santo o dirigirá através das Escrituras. Nas impossíveis, não seja "teimoso", está fora de seu controle. Nestas, só Deus, e Ele mesmo, agirá. Na orientação e na ação, Glória Àquele que tudo faz por Jesus Cristo nosso Senhor.
Para os que acham desculpas e justificativas para tudo, Paulo deixa uma saudação de fim de carta: “Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Gálatas 5.17.
Amauri Galvão -Palavra que Funciona, um Ministério obedecendo a chamada.
Amauri Galvão - Palavra que Funciona - Um Ministério obedecendo a chamada